Acabou! Nada mais importa... Não respiro, não durmo e o apetite ficou esquecido. Perdeu-se no éter da angústia. No estômago, resta um enorme buraco onde reside uma dor terrível, angustiante e onde nenhum grão de comida entra... Apenas água ou outro líquido para me matar... a sede que se insurge contra a gigantesca ansiedade que os múltiplos pontos de interrogação, exclamação e demasiada confusão, polulam nas bolhas do pensamento, como as da Banda Desenhada, mas em modo loop. E ainda revejo tudo ao pormenor no ecrã de alta definição da(e)mente, através de imagens vivas, revividas e já tão gastas de tanto as rever.
Nada faz sentido. E tudo deixou de existir... O burburinho alheio não me interessa, mesmo que alguém grite ou me ofereça um jornal. Quero gritar e chorar a minha dor, será que ninguém percebe isto?! Será que são todos felizes menos eu?! Não entendem que não vos quero ver, oh insensíveis desconhecidos?!
Nada faz sentido. E tudo deixou de existir... O burburinho alheio não me interessa, mesmo que alguém grite ou me ofereça um jornal. Quero gritar e chorar a minha dor, será que ninguém percebe isto?! Será que são todos felizes menos eu?! Não entendem que não vos quero ver, oh insensíveis desconhecidos?!
Desliguei a antena... os rostos da multidão são apenas meros vultos que por muitos encontrões me dêem, não me afectam nem arrancam o tormento e o choro sofrido que sinto por dentro. Quero morrer!!
Odeio as gargalhadas dos adolescentes parvos - como eu já fui (ok, e ainda sou, muitas vezes). Vingo-me ao pensar em como eles não imaginam o que lhes espera na Vida e consigo até sentir uma pontinha de felicidade cáustica, naquele momento. Pura e doce maldade. Aproveitem, porque nunca mais se vão rir assim na Vida, que nem idiotas! Não percebem que é uma afronta ao meu problema?! À minha "coisa" apertada e vazia, aqui dentro?
Porque faz Sol hoje se eu sinto frio e me chove em cima?!! O Mundo inteiro está a conspirar contra a minha dor e ninguém quer saber... Estou a sufocar!
Os amigos tentam ajudar, mas com frases feitas que não queremos ouvir e abraços e palmadinhas nas costas e alguns, passando horas a ouvir-nos e a dar-nos Kleenexes de 2 em 2 minutos. Mas a vida deles continua bem e só eu me sinto miserável!
Porque aconteceu assim?! Estava tudo tão bem... Eu gosto tanto, mas tanto dele/a?! Como vou conseguir viver os meus dias, daqui para a frente?...
Caminho pelas vielas do abandono e da solidão, pelas avenidas largas que vão da raiva até à tristeza... Todos os lugares me parecem desinteressantes e vazios...
Ah! O restaurante onde jantámos pela primeira vez. Que "seca"! Porque vim aqui parar, logo hoje?! Mais dois passos de desventura e vejo-te na esplanada onde nos encontrávamos para beber café e aos domingos degustávamos, num compasso slow, o brunch de que tu tanto gostavas... Mas não és tu quem está lá sentado. Alguém que tem o cabelo parecido com o teu, só o vi de costas. Ai, como doí!
Vou para a FNAC, ver se me distraio com livros ou filmes que não o meu... Subo as escadas rolantes e o Shopping está a passar aquela música que cantávamos milhões de vezes no gozo, quando viajávamos de carro... Não é possível!! O mundo inteiro está a dar comigo em louca!
Alheada de tudo, vagueio pelos livros. Não me apetece ir para casa. Preciso ver gente que não me veja e não me pergunte como estou e se está tudo bem...
Saio com 4 livros sobre Psicologia, Sociologia, Jornalismo e Política e ainda um manual de Astrologia... Sinto-me culpada porque tenho pilhas de livros por ler em casa, mas vou precisar... Nestes momentos, os livros são os meus melhores amigos, conheço-me bem. Eles, a música e a escrita. Nunca deixaram de o ser, mas agora são os únicos que não me dizem o que eu já sei e desejava não saber... São desconhecidos que se vão desvendar e tornar amigos com o passar das páginas. Às páginas tantas, são amigos que descobrem coisas novas em mim, que me invadem e me questionam. Claro, vou querer por vezes o ombro dos amigos de todas as horas, mas esses são poucos e nem sempre podem, por muito que "estejam" connosco. E também porque já me cansei de lhes contar vezes sem conta todos os detalhes da minha história... e faltam-me forças para as tentativas de me animarem com saídas, gargalhadas, piadas, e outras conversas que em certos dias resultam, mas muito raramente...
Cheguei a casa. A casa é o melhor sítio do mundo, a gruta-refúgio onde não há ninguém a pedir para atender o telefone, responder aos emails ou a perguntar pela apresentação sobre a Análise do Investimento no Perú de 1990 a 2010 e as previsões de crescimento até 2012!
Em casa posso derramar toda a minha dor, gigante e insuportavelmente minha! Não me interessa a dor da Luísa que o Manel deixou, nem a do Vasco que foi traído pela Rute. Nada supera a minha dor. Ao fim de cinco minutos de SIC Notícias desligo a televisão, depois de um zapping ligeiro. Não me interessa o Défice, o PEC, a estreia do filme com a Angelina Jolie, e muito menos o jantar marcado há um mês com amigos... NADA! Vou colocar uma tabuleta na porta, deixar mensagem no atendedor de chamadas e alterar o status no Facebook a indicar: NOT AVAILABLE! DON'T LEAVE ANY MESSAGE! I'll BE BACK SOMETIME...
Perder a pessoa que amamos - ou julgamos, muitas vezes, amar - leva-nos ao extremo das piores sensações e emoções que a espécie humana pode sentir. A ferida não se vê mas dói muito mais do que qualquer outra ferida de chaga aberta no nosso corpo.
A Dor da Alma abala-nos como nenhuma outra e pode causar muitos danos na nossa Vida, a começar pela nossa saúde: física e mental.
Geralmente perde-se ou ganha-se peso, desregula-se o sono, perde-se concentração, foco e tudo nos remete para a pessoa que assumidamente se sabe que perdemos e não vamos recuperar.
Creio que já todos passámos por momentos destes, vividos das mais diversas formas.
Faz parte das experiências que vamos tendo ao longo da vida. Dada a nossa necessidade de vinculação a outro - proveniente da primeira relação que estabelecemos na vida, com a nossa mãe - tendemos muitas vezes a procurar/encontrar alguém que, na relação, proporcione muitas das experiências que marcaram a nossa relação com nossa mãe. Quando nos vinculamos a alguém - necessidade humana inconsciente - vem a Idealização do parceiro. Projectamos muitos dos nossos traços no outro e idealizamos uma certa pessoa que, muitas vezes, cai no exagero (no pedestal onde a colocamos) e não corresponde ao real. O tempo vai passando e podem acontecer duas coisas: ou começamos a ver também os defeitos do outro e a aceitá-los (ou não) e a ter uma visão mais real da pessoa com quem escolhemos estar e a relação progride ou não; ou, permanecemos na fase da idealização, desculpando os "defeitos" com argumentos em defesa da "perfeição" do parceiro e caímos na ilusão dessa projecção elevada ao exagero que nos cega por completo e que nos leva a amar demais alguém - que na maior parte dos casos - não nos merece.
Se as coisas correm bem, a relação tende a ganhar maturidade e a tornar-se sólida, transitando do Amor Apaixonado para o Amor Companheiro. Se as coisas correm mal, mas nenhuma das partes está iludida em relação ao outro, a relação termina, da pior ou melhor forma. No entanto, se uma das partes está na posição do que idealiza e é manipulado pelo outro... então temos alguém que se vai magoar muito. Alguém que acredita até ao fim que é amado sem qualquer tipo de interesses em contrapartidas, acredita que não há traição, mas foi apenas um mal-entendido ou algo que até se desculpa porque o parceiro até se mostra arrependido e nos ilude com uma viagem a Roma, enfim... poderiamos continuar com mais exemplos. Importa referir que, nestes casos, só quando se entra na fase de Aceitação - aquela em que se aceita que se facto estamos a ser alvo de manipulação de alguém que não é consistente nem coerente entre o que diz e o que pratica. Chegar a esta fase demora tempo, depende de cada um de nós, mas quando se atinge, é o princípio para se preparar para iniciar a última e não menos dolorosa fase: o Luto.
Mas - de forma muito resumida - estas, são as diferentes etapas que as relações podem atravessar...
Não há poções ou elixíres mágicos para nos ajudar a resolver e a ultrapassar estas situações. Resta-nos procurar dentro de nós essa vontade, força e essa luz, recorrendo a algum apoio externo como amigos intímos, familiares próximos e outro tipo de apoios, se necessário, para mantermos os "mínimos olímpicos" dos nossos dias.
Há pequenas coisas que, por muito dolorosas que possam parecer, devemos começar a fazer na fase de luto... A "viagem pelo deserto" que inicia é algo solitária, única e as fórmulas ideais para "sobreviver" virão de si. Mas deixo algumas dicas no artigo seguinte, nas quais se poderá rever, ganhar novas ideias ou simplesmente inspirar-se para o seu percurso...
Respire fundo e... May the Force be with You! ;)
Love,
Take Care,
Birdie
Take Care,
Birdie
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