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Monday, December 31, 2007

Se... (If...)

I wish to all of my friends a Very Happy New YEEEAAAAAAARRR!!!!
Hugs & Kisses from Yasmin!

Se consegues manter a calma quando à tua volta
Todos a perdem e te culpam por isso,
Se consegues manter a confiança em ti próprio quando todos duvidam de ti,
Mas fores capaz de aceitar também as suas dúvidas;
Se consegues esperar sem te cansares com a espera,
Ou, sendo caluniado, não devolveres as calúnias;
Ou, sendo odiado, não cederes ao ódio,
E, mesmo assim, não pareceres paternalista nem presunçoso:

Se consegues sonhar – e não ficares dependente dos teus sonhos;
Se consegues pensar – e não transformares os teus pensamentos nas tuas certezas;
Se consegues defrontar-te com o Triunfo e a Derrota
E tratar do mesmo modo esses dois impostores;
Se consegues suportar ouvir a verdade do que disseste,
Transformada, por gente desonesta, em armadilha para enganar os tolos,
Ou ver destruídas as coisas por que lutaste toda a vida,
E, mantendo-te fiel a ti próprio, reconstruí-las com ferramentas já gastas:

Se és capaz de arriscar tudo o que conseguiste
Numa única jogada de cara ou coroa,
E, perdendo, recomeçar tudo do princípio,
Sem lamentar o que perdeste;
Se consegues obrigar o teu coração e os teus nervos
A ter força para aguentar mesmo quando já estão exaustos,
E continuares, quando em ti nada mais resta
Que a Vontade que lhes diz: “ Resistam!”

Se consegues falar a multidões sem te corromperes,
Ou conviveres com reis sem perder a naturalidade,
Se consegues nunca te sentir ofendido
Seja por inimigos, seja por amigos queridos;
Se todos podem contar contigo, mas sem que os substituas;
Se consegues preencher cada implacável minuto
Com sessenta segundos que valham a pena ser vividos,
É tua a Terra e tudo o que nela existe,
E – o que é ainda mais – então, meu filho,
Serás um Homem.

Rudyard Kipling

Friday, December 28, 2007

O Reencontro

Contemplava mais um avião que se fazia à pista, sob um Sol ainda ensonado e friorento que timidamente começava a despertar a manhã...

Sentei-me num dos bancos virados para a pista onde aguardava a chamada para o embarque.
Não queria ver outras caras... Ainda sentia o abraço apertado e intensamente longo com que a minha mãe se tinha despedido de mim há menos de dez minutos. Sei que chorou depois de eu ter passado as portas para a área de embarque.
O abraço forte e muito carinhoso do meu Pai, repetia-se na minha mente, tal como as suas últimas palavras embargadas ao dizer-me para telefonar a qualquer hora, se precisasse de alguma coisa.

Fechei os olhos para guardar na alma, o melhor possível, aqueles útilmos instantes antes da partida. Sucederam-se imagens que projectavam na perfeição instantes em família, com amigos, sózinha... um filme que navegava pelo espólio das emoções arquivadas que, como por magia, surgem para nos fazer crêr que não somos "casa vazia e abandonada"...

Deixava tudo para trás, em busca de um recomeço a partir do zero.

Se por um lado me invadia a angústia da distância a que ia ficar do "Meu Mundo", por outro lado, uma energia muito forte me iluminava com sensações de Descoberta, de uma nova Era... uma nova etapa que vai passar a fazer parte do "Meu Mundo".
Assim, descobria aos poucos de que não ia deixar o "Meu Mundo", mas que este é o resultado da interacção com tudo o que me rodeia, com a(s) realidade(s) que num dado momento constituiem os cenários e as personagens que vão construindo este Meu Mundo... E sendo assim, sou eu que projecto o "filme" de acordo com as tais realidades, e que não sou eu que dependo dele, mas o contrário.

Enquanto tiver a capacidade de me ligar a esse Mundo para introduzir novos "takes", com novas "personagens" e "acções", jamais me sentirei sozinha e distante de Tudo o que faz parte de mim. Para isso, serve o magnífico Arquivo de Emoções...


Uma voz feminina que ecoava pela longa sala de embarque, despertou-me.
Abri os olhos e senti que o Sol também já estava mais acordado e luminoso...
Era altura de partir!
- "The Game is a Foot!" - ouvia numa conversa de circunstância entre dois ingleses que se juntavam à fila.
Sorri e pensei que, de facto,... ouvira aquela frase no momento certo. Era verdade. The Game, is a Foot! It's time to ReStart!

Segui em frente, sem olhar para trás, sorri para a hospedeira que me pedia o "Boarding Ticket" e desejava um bom vôo, e agradeci.
Agradeci, por tudo... em silêncio. Agradeci ao Universo, pela Redescoberta do Meu Mundo, que levarei sempre comigo.

A Viagem recomeça aqui!

Nobody Knows You When You're Down And Out

Well once I lived the life of a millionaire
Spending my money, I didn't care
Takin' my friends out for a mighty good time
Buyin' boot leg liquor, champagne and wine
Then I began to fall so low
Couldn't find me no friends
Had no place to go
If I ever get my hands on a dollar again
I'm gonna hold on to it, till the eagle grins

I said nobody knows you
When you're down and out
In your pocket, you ain't got one penny
And your friends, you didn't have any
Just as soon as you get up on your feet again
Here they all come, they say that they're your long-lost friend
Oh lord without a doubt
Nobody wants you
Nobody needs you
Nobody wants you
When you're down and out

I say

Nobody wants you
Nobody needs you
Nobody wants you when you're down and out


(Patty Smith)

Saturday, December 22, 2007

Eu Tive um Sonho Sonhei a Paz

Era um sonho branco
branco como a Paz
Era um sonho d´ouro
d´ouro como a luz.
Era um sonho imenso
que envolvia todos os espaços.
Era um sonho vivo
feito de mãos dadas e de abraços.

E li no meu sonho
A palavra Esperança
Ouvi no meu sonho
Risos de Criança.
E era a Verdade
A única lei da nossa voz;
E era a Amizade
A regra de vida entre nós.

E os que acreditaram
Quando eram meninos
No poder das fadas
Traçando os destinos,
Sabem que este sonho
Não está nas varinhas de condão
Sabem que este sonho
Começa no nosso coração.

Friday, December 07, 2007

A New beginning... Learning the Blues.

Sometimes life bring us surprisingly things...
Tonight, I just want to celebrate... along with the Blues.


The tables are empty - the dance floor's deserted
You play the same love song - it's the tenth time you've heard it
That's the beginning - just one of the clues
You've had your first lesson - in learnin' the blues

The cigarettes you light - one after another
Won't help you forget him - and the way that you love him
You're only burning - a torch you can't lose
But you're on the right track - for learnin' the blues

When you're at home alone, the blues will taunt you - constantly
When you're out in a crowd, the blues will haunt your memory

The nights when you don't sleep - the whole night you're crying
You just can't forget him - soon you even stop trying
You'll walk the floor - and wear out your shoes
When you feel your heart break - you're learnin' the blues


Friday, November 23, 2007

Está um Frio do Caneco!

É mesmo verdade!
Novembro chegou mesmo, e com ele o friozinho característico desta época!
Ainda bem! Gosto dos dias frios... Cheios de Sol, de preferência!

O frio acentuou-se tanto que até o nosso amigo James Blunt se anda a queixar...
Ora vejam ... e ouçam! ;)

Votos de bom fim-de-semaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaana!!


Monday, November 19, 2007

Quando se Sente em Absoluto o Dom de Existir...

... porque há quem nos lê a Alma e escuta.
E também músicas que conseguem ir muito além das palavras que as entoam, tornando possível a tradução de sentimentos tão complexos como os do Ser-Humano...

Partilho uma música lindíssima - Amado - que dedico ao Pier.

Beijo para o Amicco ;) e obrigada por me teres dado a conhecer um bocadinho do lindíssimo Ser que há em ti... e pela Vanessa. ;)

Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr do sol, postal, mais ninguém

Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu Jasmim será
Meus melhores beijos serão seus

Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais..

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Sinto absoluto o dom de existir, não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você




Amado, por Vanessa da Mata

Monday, November 05, 2007

Saturday, November 03, 2007

Olhares de Pássaro...

Para recordar Lisboa e muitos outros detalhes pertencentes ao meu roteiro de vida...
Para recordar, sempre. Esteja onde estiver...

Thursday, November 01, 2007

O Renascer das Cinzas...

A campainha tocou.
Corri para o receptor onde no écran estava alguém ensanguentado, com uma estaca espetada no coração. Sorri... Era o P.
Abri a porta com dificuldade, já que trazia nas mãos os restos do pó branco que me deixou mais esquálida que o normal e mais branca que a cal, e regressei em passo corrido para a casa-de-banho onde, com a ajuda do espelho, terminava os últimos rituais...

Havia incenso a queimar em todas as divisões da casa, velas acessas, e música com muitos decibéis acima do normal, originando um ambiente meio... bizarro...
Ouvi a voz do P., que em jeito de grito tentava fazer-se ouvir no meio de todo aquele "ambiente difuso".
- "Posso entrar??!"
- "Claro!!" - soltei eu num "Lá bemol agudo", que resultou no meu estridente grito de "boas-vindas", seguido de uma gargalhada acutilante que percorreu a totalidade da escala musical em clave de Sol... numa noite de Lua semi-cheia.
- "Estou aqui, podes vir!", voltei a gritar a P., que já vinha ao meu encontro com alguma curiosidade em relação ao meu aspecto. Virei-me, e...:

- "Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh", gritámos em simultâneo, numa desafinação total! Qual dos dois o mais assustado!
De facto, metiamos medo ao susto, e depois da troca de elogios rasgados, entre gargalhadas ensanguentadas, lá saimos em direcção à Noite... a Noite de todas as Bruxas, de todos os monstros e Almas de outros mundos... Prometia!

O meu cabelo negro, comprido e escorrido, ficou preso na porta do carro.
- "De facto, estas "dimensões" de cabelo não se compadecem com os tempos modernos...", dizia para o P. que com ar de morto vivo esperava pacientemente ao volante para arrancar.
Olhámos um para o outro, mais uma vez, e desatámos a rir!
- "Estás uma autêntica Mrs. Adams!", dizia o P., num tom de graçola!
E eu respondi no meu melhor British accent:
- "Thank you very much, Count Dracula! You are also terrifyingly-sexy!", e pisquei-lhe o olho numa risada ruidosa... do outro mundo.
Arrancámos num transporte de século XXI, em direcção à casa da S. onde, numa viagem no Tempo, iriamos jantar em ambiente de muitos séculos atrás, na penumbra de candelabros, teias de aranha, e tudo o mais que possam imaginar dos filmes de terror!

Chegámos num instante. Subimos no estreito elevador até ao 5º e último andar daquele prédio lindíssimo antigo mas recuperado, em plena Lapa. Eu segurava cuidadosamente a Sobremesa Maléfica, que tinha preparado. Um gelado de nata muito congelado, dentro de uma caveira de cor branco-fluorescente, onde escorria molho de frutos silvestres que se assemelhava a sangue, conferindo um aspecto perfeitamente horrível ao pobre gelado!
O P. deitava o olho para dentro do enorme tupperware onde eu cuidadosamente guardára a dita sobremesa, com ar de quem queria já provar um bocadinho e também ver o efeito final.

Depois dos cumprimentos "terríveis" entre todos e de colocar a sobremesa novamente no congelador da S., fomos para a Sala.
O ambiente era mesmo magnífico, agora que estava tudo pronto e as velas acessas sem qualquer tipo de luz eléctrica. Ouvia-se música clássica. Tchaikovski - ou o "heavy Classical-composer" como carinhosamente lhe chamo - conferia ainda mais mística e suspense ao local que tanto trabalho nos tinha dado a preparar, durante a semana. Mas tinha valido a pena. O P. e o D. - o marido de S. - estavam rendidos às nossas artes decorativas inspiradas em ambientes góticos!
O restante grupo chegou de seguida... O F., a B, e ainda outros amigos do D., enchiam a casa e tornavam o ambiente cada vez mais estridente e... "pesadamente" alegre!

A confusão já reinava entre conversas variadas, aperitivos à base de cocktails de côr vermelha, e salgadinhos em forma de abóbora.
Distanciei-me um pouco
, e fui até à zona mais reservada da enorme sala: o terraço. Abri a porta e saí para tomar um pouco de ar fresco...

A vista sobre a cidade e o rio é magnífica... Lá estava a Lua semi-cheia, cálida e brilhante. Diria até, Majestosa, mesmo a "meia-haste"!...

Entrei novamente, pois a S. estava a reunir os monstrinhos para o Jantar Tenebroso!
A noite foi fantástica! "Monstros" cheios de sentido de humor animaram a conversa, e alguns engraçadinhos pregaram sustos valentes, sempre que alguém ia à casa-de-banho...
perto da uma da manhã, discutia-se para onde iriamos a seguir. Depois de muito "Conferenciar" o "Conselho Monstruoso" decidiu ficar em casa e apostar no mais tenebroso dos jogos: o Jogo da Verdade, em que o objectivo seria... conviver com os nossos "monstros interiores", sem medos... enfrentá-los!

Esta, foi sem dúvida, "the Ultimate Experience"...
No meio de máscaras, de monstros, de muitas teias de aranha, e cicatrizes, ali estávamos nós. Cada um, a mostrar a sua face mais oculta, a expôr os seus verdadeiros monstros a um grupo de amigos, mas também a alguns menos conhecidos.

Rimos, brincámos, emocionámo-nos, e... a noite acabou por ter um significado muito especial para todos, unindo-nos ainda mais.
Libertou muitas pressões e repressões... tornou-nos mais cúmplices e compreensivos acerca de outras realidades e formas de sentir, percebemos melhor a singularidade de cada um.

A noite de todas as Bruxas e de todos os Monstros, enfeitiçou o momento partilhado, e criou um espirito de equipa e amizade ainda maior. Conhecemo-nos melhor, mesmo quem julgávamos conhecer muito bem...
Na noite de todas as Bruxas e de todos os Monstros, soltámos as amarras, e fomos surpreendidos pela espontaneidade das revelações, pela coragem de algumas intervenções, e pela forma como, numa noite, alguns se libertaram de muitos monstros antigos, aniquilando-os para sempre...

Entrámos no dia 1 de Novembro, como se fosse o primeiro dia de uma nova Vida, e com uma experiência rica e bonita...
A Lua despediu-se do grupo que, no terraço, dava as boas-vindas ao Sol que, timidamente, se mostrava no horizonte...
Mais um dia. Mas não um dia qualquer. Dia 1. O primeiro de um novo ciclo. O primeiro dia de muitos que virão. Mais leves, mais ricos, mais soltos, menos sofridos...

Renascemos
, sob os primeiros raios do Sol...
Em silêncio, escutámos o alvoroço profundo do amanhecer, que através da brisa fresca da manhã, nos sussurou uma mensagem que me ficará para sempre. Aprendi que estes momentos podem acontecer mais vezes, e que a partilha e a entre-ajuda não têm dia nem hora marcada.
Tal como o Sol, todos podemos "amanhecer" a cada novo dia.
É a nós quem cabe essa escolha.
A de Renascer... todos os dias. Enfrentar medos e monstros, com a mesma coragem de quem rasga as trevas da noite e viaja até ao amanhecer. Basta ser-se Verdadeiro, saber escutar e...partilhar.


Dedico este texto e música, à minha muito querida amiga, Sol.

Friday, October 26, 2007

Noites Longas na Cidade...

Chego a casa de madrugada...
Contrariamente ao normal, não quero dormir...
Apetece-me relembrar a intensidade da noite na sombra reconfortante de um café acabado de fazer.
Ligo a chaleira eléctrica. No silêncio da casa ouço apenas os sons estridentes da minha agitação interior. Os que me mostram imagens contínuas de momentos, pessoas e espaços, vividos ao longo da noite.

Vou para a sala e abro a janela larga virada ao rio. Respiro fundo... uma e outra vez. Fecho os olhos para sentir o momento sem outras distracções...
Lá fora, a Lua cheia ilumina a sala com uma luz fria mas hipnótica e bela... É linda. "És linda"... sussurro, com voz rouca, cansada e gasta pelas horas...
Observo a avenida larga. É tarde... ou cedo, depende. Vejo ainda alguns carros em movimento.
Ao longe... ao longe, o brilho das luzes da outra margem e da ponte que, numa dança ritmada em jeito de "rave silenciosa" da madrugada, me agitam as emoções.

A chaleira chama-me, com o seu apito seco e esfumaçado pelo vapor.
Caminho calmamente e dirijo-me à cozinha, como se a noite fosse eterna...
Sentia-me menos inquieta e excitada pelas novidades, pela mudança em curso, por tudo e todos por onde os meus caminhos me têm conduzido...

O café... Está quase pronto. A água ferve já dentro da cafeteira onde o pó escuro e de cheiro intenso antes repousava e agora se envolve, esfuziantemente, com a torrente escaldante de água.
O café... Como um simples café é capaz de raptar-me o Coração e manter-me prisioneira das viagens da Alma.

Abro o armário para tirar a minha chávena amarela-torrado... De uma forma tão real, passa por mim o filme em que te revejo. O momento em que costumava perguntar-te qual a côr da chávena que querias, entre as mais de 10 chávenas coloridas que guardo, carinhosamente, e que acumulam histórias de família.

Estás aqui
, comigo... Em mim, onde sempre estarás. Sinto a tua presença, de tão intensa que é a lembrança.
Guardo cada gesto, cada olhar dos teus olhos de eterno menino... o teu toque... o teu carinho... as palavras e até a tua voz... Guardo-te. Em mim...
Respiro-te... Misturas-te com o aroma intenso do café, sem o qual não vivo... De olhos fechados, sinto cada momento da viagem, onde o aroma que invade a casa é a fita do filme que o café realiza... vezes sem conta. Sem açúcar. Basta-me a tua doçura...

Volto à sala e sento-me na janela ampla de parapeito baixo e confortável.
O calor do café acarinha-me a face quando cuidadosamente o beijo na primeira prova... É quente, intenso, denso, e forte...
Acarinho a chávena amarela com as duas mãos entrelaçadas para a proteger... para te proteger.

Já não sei o que me embala na frieza da luz intensa da Lua...
"I Know You're Somewhere Out There"...

Saturday, October 20, 2007

A Máfia das Análises Médicas

Na correria da derradeira semana que me aproxima vertiginosamente de uma nova etapa da Vida (uuuffff), corro para o posto médico.
Agarro com cuidado o típico tubo de laboratório muito bem protegido para não deixar escapar o fluído branco-amarelado, usado como amostra nas análises médicas de rotina...

Pensei que seria uma das primeiras pessoas a chegar. Afinal, é Sábado e a Clínica Médica abre às 08:00, e... enfim, vá lá que tivesse uma ou duas pessoas à minha frente... Não! Longe disso...
O relógio marcava as 08:03 de um sábado de Outono, cuja manhã fresca fazia adivinhar um dia intensamente quente para a época. E fiquei também a ferver porque já havia SETE pessoas lá dentro! Inimaginável! Só podiam ter dormido ali!!!
Achei que poderiam ser "Figurantes", para dar credibilidade à Clínica... Ri-me por dentro, quando pensei nesta idiotice... Uma Técnica de Marketing curiosa...
Esfriei a cabeça ao rir da minha idiotice... o que é muito frequente, if you know what I mean. Aliás, nem sei como me estão a ler, ainda. Se calhar não estão!... Pois...
Bem, adiante.

Puxei por uma daquelas senhas amarelas que com um número nos indicam quando vai chegar a nossa vez.
Sentei-me, e ... esperei...
Eram-me todos indiferentes. Eu estava ainda ensonada e pensava apenas no momento indescritível que é, para mim, sentir a agulha penetrar na veia e sugar-me das entranhas um líquido espesso, vermelho muito escuro. Precioso líquido que me invade o corpo e me dá Vida...
No entanto, prefiro saber que ele está cá dentro, sem ter de olhar para ele...

No meio destes pensamentos meio idiotas - já vos disse que sou idiota, não disse? Depois não se queixem... - dei comigo a reparar no plasma - SIM, PLASMA! - do Centro Médico! Wow! Afinal, ainda dizem mal da Saúde! Eu estava ali, numa Clínica Médica pública, a olhar para um Plasma e, "plasme-se", estava sintonizado na SIC Notícias, imaginem!
Que maravilha! Não tinha de suportar aqueles desenhos animados dos Sábados de Manhã, quase tão idiotas como eu, ou os concurso de televisão que geralmente neste locais e nos cafés passam para entreter os "Enfants Terribles!"...

E falando em "Enfant Terribles"... Depois de gastar meia embalagem de Kleenex para recolher a baba que ia soltando ao contemplar aquele plasma, fitei com atenção as notícias do dia... E com isto, já nem se pensa em sangue. Pelo menos no nosso! Apenas se sente um pouco... na pele...
Bom mas depois de avidamente me degustar com as notícias, começou a publicidade, e... RIIIING! SETENTA E QUATRO! SETENTA E QUATRO! Ooops... era a minha vez!
Este é outro momento delicioso! Parece que estamos no Bingo! Aliás, eu quase disse "BINGO"! Mas contive-me.
Depois daquele impulso repentino de me levantar e mostrar que era EU - e mais ninguém, nos arredores - quem possuía aquela senha, abrandei o ímpeto e calmamente murmurei qualquer coisa como: "sou eu... " como se me chamasse setenta e quatro...

Tratei das papeladas todas, documentos para aqui, assinaturas para acolá, cartão de utente, enfim... Parecia o processo de compra de Habitação no balcão de um Banco... do BCP, por exemplo! Bem, aí já não sei... Poderia sempre subir no elevador e falar com o Tio. O Tio Jardim, quem mais??!
Terminado o "processo", voltei para o meu lugar à espera que me chamassem para o momento sublime das análises médicas!

Confesso que se instalou um formigueiro no estômago... Pensei que pudesse ser fome. Afinal, não tinha ainda tomado o pequeno-almoço, e com sou tipo "passarito" a comer, o jantar do dia anterior já estava muito longe, concerteza... Mas não... Não era fome, nem vontade de comer.
Comecei outra vez a imaginar a agulha a... ok! Já expliquei, não vou repetir o processo do "espeta ali", "suga o sangue" acolá... argh!!

Concentrei-me novamente na SIC Notícias.
Fiquei fascinada com as imagens que via e, em segundos, estava "presa" ao ecran.
O mar azul-turquesa, a areia com um tom dourado-escuro, as casinhas brancas nas encostas de rochedos castanho-escuro... LINDO! Era na Secília!
Entra, em contraponto, uma imagem com um pedaço enorme de carne crua, num talho! AAArghhhh! Caaaarrrneeee! Cruuuuuuaaaaa!!!! Por favor!Tenham dó! São só 08:30 da manhã de um Sábadooooo e eu vou tirar sangueeeeeeee e sou Ovo-Lacto-Vegetariana!!!!
Num ápice, muda o plano para o dono do talho. Um Italiano rechunchudo que falava da Famiglia... mais concretamente da família Corleone e do Padrinho. Factos reais, nada de filmes de Hollywood!
O que mais me chocou foi perceber pelas fotos que iam mostrando - felizmente, quase todas a preto e branco - que as provas existentes de "ajustes de contas" entre Famílias, naquela região e arredores, são bem piores do que aquelas que nos contam os filmes...

Entre sangue, bocados de carne crua, Mafia, a imagem de uma agulha a picar-me as veias... senti-me a esvair pela cadeira, com alguns suores frios e o estômago virado do avesso, como se estivesse a ver um filme de terror!
Foi quando achei que não ia aguentar e ia deitar qualquer coisa que já não existia cá para fora.
Ao longe, muito ao longe, ouvi o meu nome! Acho que me chamaram umas três vezes... Bolas! Respondi mais depressa à chamada do "setenta e quatro" do que ao meu nome! Isto não é normal...

Lá fui para o gabinete, onde a enfermeira muito sorridente me dizia os bons-dias e perguntava em qual dos braços eu preferia ser "picadinha" para "recolher a amostra"... Aquela história do "picadinha", ainda me deu mais a volta... ao estômago!!! Qualquer um servia, e enquanto lhe dizia que ia virar a cara, para não ver a agulha, pensei que esta história de fazer análises também tem a sua Máfia!

Vejamos: aqueles que às 08:03 da manhã já lá estão - SENTADOS E COM AR DE QUEM NÃO DORMIU, DE TROMBAS, A OLHAR-NOS COMO SE FOSSEM OS DONOS DO BLOCO, ESTÃO A PERCEBER??! - a história dos tubinhos cheios de sangue, minuciosamente catalogados, analisados - tal como antecede ao ajuste de contas entre famiglias - a carne - a do meu bracito, claro, e no final, ela olha-me com um sorriso "malicioso", e fala-me de "picadinha"?????! O que é isto???? Enfim, comparações, não faltam...

Pelo meio destas minhas evasões horroríficas, ouço a "Madrinha" de bata branca dizer-me para esperar e não me levantar.
Percebo que o pesadelo tinha terminado... Foi rápido! E nem senti nada, desta vez!
Até nisto, esta "Máfia" funciona bem!! Fantástico! Rápido, Indolor e Limpo!

Saí da Clínica e rumei à praia para tomar o pequeno-almoço... Olho em volta e vejo a pequena encosta pouco escarpada que envolve as praias da margem sul... Estas não se comparavam com as que vi no documentário mas... pelo menos, agora sentia-me bem melhor e... mais segura...
Ah! Maravilha... o meu sumo de laranja e o meu pão de cereais torrado... Hummmmm....
Mergulhei na nova Etapa que aí vem...
Sem Padrinhos... ;)
Ainda vou ter saudades disto...


Thursday, October 18, 2007

Uma Possível Resposta a uma Pergunta Difícil...

Em certos momentos, flutuam na nossa mente imagens e palavras que pertencem a histórias passadas.
Costumo achar que tenho um Realiza(dor) dentro da minha cabeça. Talvez todos tenham um...
Umas vezes passa pequenos filmes de comédia, outras vezes, nem por isso... É como uma Sala de Cinema exclusiva, onde revivemos filmes da nossa história pessoal, do nosso percurso de Vida, e nos quais fomos quase sempre personagens principais.

Fragmentos vários surgem em turbilhão, como num trailer de um filme intensamente vivido e que conta uma história cujos ingredientes são, invariavelmente, os sentimentos e o tempo
infinitamente únicos e bonitos, que partilhámos com alguém...

Como banda sonora, surgem temas clássicos como a Alegria, a Saudade, mas também a Dor.
Alegria e Saudade da intensidade dos momentos e daqueles com quem os partilhámos. Dor de perda... de incompreensão...
Por vezes, o Compositor acrescenta ao enredo temas acutilantes de mistério, intriga, e farsa, ou então sons mais nostálgicos, que acompanham filmes nos quais, como em alguns
puzzles, faltam peças. Nestes, a fita é cortada onde menos se espera, e a história é interrompida de uma forma bruta e original, não caíndo jamais em esquecimento...

A resposta à pergunta desta música lindíssima de Al Green é, por isso, muito pessoal e única... como os filmes que cada um vive e... escolhe reviver...
Depende do nosso estágio de desenvolvimento interior. Depende da maturidade e da capacidade de encontrar um sentido para cada história mais triste, a fim de seguir em frente sem muitas cicatrizes...

O Tempo, bem como algum trabalho de auto-conhecimento onde são bem-vindas umas pitadas de auto-estima e humor, são algumas das linhas com que, a frio, fechamos as feridas. A frio, porque é necessário Tempo para desinfectar e deixar ao ar, para conseguir repôr os níveis de inconsciência activa e consciência pro-activa...

Está escuro, lá fora... delicio-me nesta música muito especial ao mesmo tempo que pergunto baixinho... "How Can You Mend a Brocken Heart?"...


Tuesday, October 16, 2007

A Correria Frenética de um... E-mail!

Alguns de vocês já devem conhecer, mas... acho simplesmente FANTÁSTICO este... "circuito do e-mail"! Adoro-te GOOGLE! :))

Enjoy!

Monday, October 15, 2007

A Dor da Dor *

A noite estava abafada...
Preferi andar um pouco a pé, antes de ir para casa.

Vagueei no meio de tanta gente e ninguém, sem nada sentir.
Apenas me acompanhava uma dor na garganta seca. Não era a dor de garganta comum que geralmente anuncia uma gripe, nem tão pouco aquele arranhar, depois de tanto c
antar ou gritar de alegria ou de raiva. Eu permanecia em silêncio há vários dias. Apenas soltava umas frases feitas, palavras de circunstância, servidas por um sorriso cordial e amarelado como o Sol encoberto. "Palavras-chave" decoradas, que me permitiam continuar fechada na minha paz apática, sem que isso pudesse ser entendido pelos demais, em meu redor.

Aquela dor era diferente... conhecia-a bem, e sei o quanto é difcíl de curar... Mas não a esperava. Apanhou-me de surpresa, pensando eu que já tudo tinha passado. Sim, porque há sempre coisas que se devem deixar passar... Ao lado ou de preferência, bem ao longe!

Conhecem aquela sensação de pescoço apertado, totalmente asfixiante, à medida que se vai sentido menos espaço para o ar passar? O pescoço e a cabeça entorpecem e sinto-os muito pressionados. O rosto vai ao rubro, e a boca, na tentativa de expulsar qualquer coisa que parece estar ali a mais e algures, quer soltar-se em busca de ar! Mas não sai nada. Nem palavras, nem sons. O que parece exaltar-se são os olhos. O que não se solta pela boca e nos entope a respiração, invade os olhos, torna-os baços, vermelhos e rígidos, enchendo-os de grossas gotas de água salgada.
Foram os primeiros sintomas. Muito fortes e intensos.
Senti-me sufocar...

De repente... numa vertigem olhei na direcção do céu, para tentar respirar melhor, erguendo o meu pescoço, como quando nos sentimos a afundar no meio do mar.
No fundo talvez fosse isso mesmo... afinal, se andava náufraga de mim mesma, talvez me estivesse a afogar, naquele momento. Se calhar tinha perdido todas as forças, sem perceber... Quando a apatia nos invade, não se sente nada, porque o vazio é de tal forma gigantesco que apenas se ouve o eco do turbilhão do mundo exterior. Não resta mais nada.
Tossi, e consegui respirar de novo! Como quando algo nos puxa para voltar à tona de água.
Mas o aperto voltou novamente. A intensidade ia oscilando...

Reparei que o céu mostrava muitas nuvens em tom arrosado escuro, tipicamente vestidas para um início de noite de Outono, a adivinhar chuva.
Lentamente, as nuvens deslocavam-se e encaixavam-se umas nas outras formando um manto espesso que parecia também impedir o ar de circular, ao mesmo tempo que tornava o ambiente ainda mais quente...

Cheguei a casa.
Abri as janelas rasgadas que me enchem de vida quando respiro fundo e olho para o Rio que se mistura com o Mar, o pequeno jardim cuidado, a ponte ao longe com as luzes pequenias a reluzir, como que rindo do seu reflexo na água...
No meu quarto brilhava o Crescente. O quarto da Lua, que com a sua luz singela me ajudou a acender as duas velas aromáticas.

De repente... fui apanhada de surpresa por um clarão gigantesco que iluminou toda a cidade. Pelo menos todo o pedaço de cidade que consigo ver da sala, onde abria a última janela.
Não corria uma brisa... Sentia-me sem ar. Lá fora também não o havia...
Num ritmo oscilante, os relâmpagos repetiam-se. Em simultâneo, a minha sensação de asfixia permanete, acompanhava o mesmo ritmo
.

Gotas de água começaram a chorrar do céu...
Caíam pesada e incessantemente, de uma altura inatingível...
O Céu desabou naquele momento.
Do alto da minha janela rasgada... desabei... inexplicavelmente...
Sem pressa, soltava-se a dor que me magoava e me impedia de respirar...
Sem pressa, bebi da cumplicidade da chuva que, ao refrescar-me o rosto, se misturava com a minha torrente intempestiva...
Não sei quando parei... Deixei-me ficar...





Like anyone would be
I am flattered by your fascination with me
Like any hot-blooded woman

I have simply wanted an object to crave

But you, you're not allowed
You're uninvited
An unfortunate slight


Must be strangely exciting

To watch the stoic squirm

Must be somewhat heartening

To watch shepherd need shepherd

But you you're not allowed

You're uninvited

An unfortunate slight


Like any uncharted territory

I must seem greatly intriguing

You speak of my love like

You have experienced love like mine before


But this is not allowed

You're uninvited

An unfortunate slight

I don't think you unworthy
I need a moment to deliberate


*
Hoje, 15 de Outubro, dia Mundia da Dor

Saturday, October 13, 2007

A Última Vez

13 de Outubro...
Depois de sentir - ao contemplar a grandiosidade do momento - as emoções, o espaço e a beleza do significado que se sente em tudo o que foi feito para edificar o Santuário da Santíssima Trindade, em Fátima, só me resta ouvir... em silêncio...

Dedico a um amigo... Para o Alex.


Wednesday, October 10, 2007

Sede de Amor...

Nicolas Sarkozy afirmou recentemente que, "em Política estamos todos voltados para nós próprios. O que se vive é a obsessão de Si e o inevitável esquecimento dos Outros".
Acho que esta forma de estar não é um exclusivo da Política.

Tal como o Marketing, a Política também é um misto de Ciência e Arte, onde se procuram audiências, se ditam estratégias, se estimam resultados, apela-se às plateias e pedem-se muitas palmas...
Se pensarmos bem, esta atmosfera Egocêntrica que nos pressiona ao limite, transforma vivências em experiências "selvagens", diluí regras e condutas de ética, e é transversal a todas as áreas da nossa Sociedade.

Não é de estranhar que ontem, dia 10 de Outubro, o Suicídio tenha sido o foco central do Dia Internacional das Doenças do fôro Psicológico.
Os indicadores mundiais deixaram-me perplexa:

a cada 30 segundos há alguém que comete suicídio, em todo o Mundo...

Acredito que há muito falta de Amor e Respeito pelo próximo...
Não olhamos para o lado, e caiu em desuso o estender a mão em auxílio de alguém.
É mais fácil, e... não temos tempo...

Para um amigo, o KKruel, que de longe se tornou presente. Para todos os anónimos que, desinteressadamente, ajudam e pensam nos outros, sem pedir nada em troca. Para os que Amam, incondicionalmente, os que um dia lhes viraram as costas e fingiram não ver...
Fistful Of Love

Um Pequeno T2... (versão Stress and the City)

Como seria esta canção, se em vez do Ricardo Azevedo, pedissemos ao nosso actual PM para escrever a letra...?

Ouçam a música, e cantem com a letra escrita abaixo, por favor...
Afinadiiiiinhos!!
Vamos lá!
Um, dois, três!!




Eu sonhei que a Europa estava a acabar
E isso fez-me pensar
Em tudo o que eu
Poderia fazer
Engendrei
Um plano muito feliz
Vou fintar quaisquer perguntas
Para concretizar
Os meus planos.

Apenas estou a virar
O meu país de pernas para o ar
E não vou deixar ninguém questionar
O que eu ditar!

Um pequeno País onde não irá haver depois
Com vista para o Desemprego e Probreza,
Sem carro ou casa
Para Viver!

Apenas estou a virar
O meu país de pernas para o ar
E não vou deixar ninguém questionar
O que eu ditar!

Estou a virar
O meu país de pernas para o ar
E não vou deixar ninguém questionar
O que eu ditar!


Só me faltava agora o Desemprego
Para me vir importunar,
Só comigo...
Vou tentar...
"INDRO-MINAR"!

Apenas Estou a virar
O meu país de pernas para o ar
E não vou deixar ninguém questionar
O que eu ditar!
[refrão x 2]

Tuesday, October 09, 2007

Será Possível Escrever o Silêncio?...

Empurrei a velha porta de madeira pesada e empoeirada pelo tempo.
Mesmo depois de rodar a chave enferrujada consegui entrar ao fim de três empurrões persistentes, sendo que o último quase me fez aterrar no corredor de tábua corrida, gasta pela corrosão do vazio...
O ambiente era escuro, muito frio e... deprimente.
As teias de aranha e o que cobria os móveis, candeeiros e muitos outros objectos de uma casa, outrora habitada, tornavam aquele espaço num verdadeiro cenário de filme de casas assombradas.

Passaram quase dois anos... Parece que foi ontem.
Recebi a notícia por telefone, e mesmo sabendo que já estava muito doente, não queria que fosse verdade...
Mantive a frieza suficiente para fazer a viagem até Viseu sem derramar uma lágrima.
Mesmo depois de a ver, rodeada de flores, de amigos, de muitas pessoas que eu nem conhecia, entre as quais, figuras notáveis da região que me vinham "dar os sentimentos", mantive-me firme. Ainda hoje não sei descrever se em choque, se em apatia, que não durou por muito tempo. No dia do Funeral, não suportei o peso, e como o céu carregado de nuvens escuras, desabei...

O "Dar os sentimentos" é algo bizarro... como se fosse possível partilhar a dor que se sente quando se perde alguém com quem nos habituámos a estar desde que nascemos. Alguém com quem discutimos, com quem brincámos, com quem nos rimos, e a quem nos dava especial prazer irritar sabendo que responderia à letra.
Com a minha Tia era assim...
Havia sempre assunto. Defendia a região com unhas e dentes, idolatrava o Fernando Ruas, era membro activo de diversas associações, entre as quais, a Liga Portuguesa Contra o Cancro. Trabalhava no Hospital local, onde era Enfermeira. A Menina Angela, como lhe chamavam...

Agora... não a ouço. Recordo muito ao longe a sua voz forte e de timbre elevado, com forte sotaque da Beira. Aquela voz que me acordava todas as manhãs e da qual me queixava por não poder dormir até mais tarde... Mas no fundo, divertia-me com ela, e com a sua forma genuína de estar.
Agora, ouço... Silêncio.
O vazio do espaço, o frio da casa fechada, e o pó que não vê raios de Sol há meses fazem-me sentir tonta e enjoada. Tive de sair por uns instantes para respirar fundo e ganhar novo fôlego para regressar. Pensei nela, mais uma vez, e... entrei.

Passei o fim-de-semana alargado a recolher, seleccionar e a guardar em caixas um pouco de tudo: roupas, louças, objectos pessoais, fotografias, cartas, bilhetes, blocos de notas, pulseiras, brincos e colares... uma infinidade de coisas que me fizeram viajar no tempo... As chávenas onde me servia o leite com café ao pequeno-almoço, a velha torradeira onde aquecia a brôa da Tia Ermelinda...
Sabia que esta não seria uma tarefa fácil... E por isso, fôra tantas vezes adiada...
Por entre lágrimas que naturalmente escorriam quando me recordava de certos momentos, fiz algumas pausas para respirar fundo e continuar a tarefa que me irá tomar vários dias.

O fim-de-semana foi pautado pelo Silêncio...
Um silêncio gelado, que me povoou de um vazio enorme que se reflectiu num aperto tremendo no coração.
Passei os olhos com mais atenção pelas fotos que encontrei guardadas numa grande e pesada caixa. Vi o filme da Vida dela... os estudos no Porto e em Coimbra, as idas a Lisboa, as Viagens com as amigas, os casamentos, os baptizados, os aniversários, os amigos, os colegas do Hospital... retalhos de uma Vida que se apagou cedo demais.

Queria poder dizer-lhe que gosto muito de si.
Queria poder pregar-lhe mais partidas por telefone e irritá-la com os meus discursos que reduziam Viseu a um "lugarejo no fim do mundo", e enalteciam a "supremacia" Lisboeta!
Era esta a nossa troca de afectos. Entendiamo-nos tão bem...

Eu sei que a Tia adorava essas provocações, e sabia que não passavam disso. Provocações. Por gostar tanto de si, para lhe dar alegria e vontade de rir...
Queria que soubesse que penso em si e que os Natais nunca mais foram os mesmos, desde que deixou de vir a Lisboa, por estar doente.

Silêncio... Pelas recentes recordações com que Viseu me brinda - além das suas, existem outras - cuja origem tem diferentes contornos mas que me remetem, também, para o Silêncio infinito...
Silêncio... A Casa vazia e fria está triste e silenciosa.
Silêncio... O meu interior pesado e saudoso, vagueia entre o passado e o presente. Não consigo falar. Escrevo. Escrevo-te...

Silêncio... No meu coração cansado, gelado e em estilhaços, pelo atroz vazio em que me deixaste. Tal como me senti na casa da minha Tia (agora minha), também tu, dois anos mais tarde, te traduziste num vazio frio, ensurdecedor, que agonia e esgota as minhas lágrimas de tanta desilusão, e me vencem por cansaço de tanto me interrogar: "porquê?"...

Nobody Knows.


Countries & Cities Where I've Been.