Chego a casa de madrugada...
Contrariamente ao normal, não quero dormir...
Apetece-me relembrar a intensidade da noite na sombra reconfortante de um café acabado de fazer.
Ligo a chaleira eléctrica. No silêncio da casa ouço apenas os sons estridentes da minha agitação interior. Os que me mostram imagens contínuas de momentos, pessoas e espaços, vividos ao longo da noite.
Vou para a sala e abro a janela larga virada ao rio. Respiro fundo... uma e outra vez. Fecho os olhos para sentir o momento sem outras distracções...
Lá fora, a Lua cheia ilumina a sala com uma luz fria mas hipnótica e bela... É linda. "És linda"... sussurro, com voz rouca, cansada e gasta pelas horas...
Observo a avenida larga. É tarde... ou cedo, depende. Vejo ainda alguns carros em movimento.
Ao longe... ao longe, o brilho das luzes da outra margem e da ponte que, numa dança ritmada em jeito de "rave silenciosa" da madrugada, me agitam as emoções.
A chaleira chama-me, com o seu apito seco e esfumaçado pelo vapor.
Caminho calmamente e dirijo-me à cozinha, como se a noite fosse eterna...
Sentia-me menos inquieta e excitada pelas novidades, pela mudança em curso, por tudo e todos por onde os meus caminhos me têm conduzido...
O café... Está quase pronto. A água ferve já dentro da cafeteira onde o pó escuro e de cheiro intenso antes repousava e agora se envolve, esfuziantemente, com a torrente escaldante de água.
O café... Como um simples café é capaz de raptar-me o Coração e manter-me prisioneira das viagens da Alma.
Abro o armário para tirar a minha chávena amarela-torrado... De uma forma tão real, passa por mim o filme em que te revejo. O momento em que costumava perguntar-te qual a côr da chávena que querias, entre as mais de 10 chávenas coloridas que guardo, carinhosamente, e que acumulam histórias de família.
Estás aqui, comigo... Em mim, onde sempre estarás. Sinto a tua presença, de tão intensa que é a lembrança.
Guardo cada gesto, cada olhar dos teus olhos de eterno menino... o teu toque... o teu carinho... as palavras e até a tua voz... Guardo-te. Em mim...
Respiro-te... Misturas-te com o aroma intenso do café, sem o qual não vivo... De olhos fechados, sinto cada momento da viagem, onde o aroma que invade a casa é a fita do filme que o café realiza... vezes sem conta. Sem açúcar. Basta-me a tua doçura...
Volto à sala e sento-me na janela ampla de parapeito baixo e confortável.
O calor do café acarinha-me a face quando cuidadosamente o beijo na primeira prova... É quente, intenso, denso, e forte...
Acarinho a chávena amarela com as duas mãos entrelaçadas para a proteger... para te proteger.
Já não sei o que me embala na frieza da luz intensa da Lua...
"I Know You're Somewhere Out There"...
STRESS AND THE CITY - Living in a big City can be fantastic but also overwhelming. Since I moved to London, I've been living some of the most challenging moments of my Life. I'm bringing my experience of moving here alone, with nothing but the certainty of how much I wanted to stay and develop myself here. My posts will touch thoughts, personal and professional experiences, failure and success, new and old friends and how much all this is shaping the person I'm becoming.
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1 comment:
Narrativa fluente com sentimento fluente. Consegue fazer sentir o aroma do café a tanta distância.
Visita obrigatória.
Gostei.
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