Mas de quem eu não estava nada à espera é que os tipos do marketing também nos quisessem enganar. Esses malfeitores!
Não é que esses bandidos querem nos fazer ver que a Mafalda Veiga já não é a Mafalda Veiga.
Eu passo a explicar: A Mafalda tem um álbum novo. Chama-se “Chão” e é igual aos outros. Até aqui tudo bem. Nem toda a gente consegue inovar. Acontece que os tipos do marketing ao desenharem a estratégia de comunicação da artista resolveram espalhar pela cidade um cartaz embusteiro e sedutor a anunciar a data dos concertos.
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O cabelo selvagem esconde um rosto que nos sugere ser rebelde completando, assim, o traço psicológico.
Depois vem a acção: O corpo ligeiramente inclinado para trás, a mão esquerda que agarra pelo meio da escala o braço de uma guitarra cor de rock, e, finalmente, a mão direita que desfocada sugere-nos um momento de grande sensibilidade: um solo de guitarra. Mas não é um solo qualquer. Pelo ligeiro adiantado da perna esquerda é um solo em grande estilo. É daqueles que um qualquer pedal de efeitos deve estar a ser utilizado em simultâneo, tornando a performance ainda mais difícil.
O que os senhores do marketing fizeram foi uma velhacaria. Quiseram-nos fazer crer que a Mafalda é uma rockeira e sua em palco. A nossa Mafalda não é uma PJ Harvey, uma Sheryl Crown ou mesmo uma Alanis Morisette. A nossa Mafalda é uma menina de bem. Caso não saibam cantou os “pássaros do sul” num registo calmo e insonso. O cartaz devia reproduzir uma Mafalda deitada ao lado da sua guitarra de madeira, descascando uma laranja numa enorme seara de trigo, deslumbrando um céu que teima entardecer sobre uma pequena aldeia de Portugal.
A Mafalda não escreve sobre conflitos, sexo, drogas ou violência. A Mafalda fala sobre a natureza e a formosura do amor. A Mafalda não faz barulho. Respeita os vizinhos e não põe a música alta.
Esse cartaz é um embuste. É traiçoeiro, enganador, patife e devasso.
É a mesma coisa que fazerem um cartaz com os cinco elementos dos Xutos e Pontapés vestidos com umas místicas túnicas brancas de linho sentados de cócoras em frente ao grande lago do Taj Mahal, sugerindo que nesse novo álbum, instrumentos orientais teriam sido utilizados na gravação e que as letras agora teriam um maior teor espiritual.
Há artistas que nunca mudam.
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