Caminho ao longo do Rio, na ponte de madeira mesmo junto à margem...
A maré está baixa, e mesmo já sendo noite, consigo ver o ondulado assimétrico das areias escuras que se deitam sob as águas calmas.
As luzinhas da outra margem brilham no caudal enorme de água do Tejo. A noite está tão tranquila como o Rio, que serpenteia, deslizando num ritmo brando, suave, e sussurante... Fecho os olhos e ouço o leve bater das pequenas ondas que se esbatem na margem, mesmo junto aos meus pés. Parece o Mar. É quase mar, afinal!
A Lua e as Estrelas miram-se vaidosas no grande espelho de água do Tejo, e cintilam alegremente, como se estivessem a celebrar algo. Talvez estejam. Afinal, hoje é dia de São Valentim. O dia em que se celebra o Amor, a Paixão...
No que me toca, todos os dias são de Amor. Amor por mim, pelos outros, pela natureza, pelo que gosto de fazer... Mas há momentos únicos, momentos bonitos que irei guardar para sempre na memória.
Do dia de hoje, ficarão para sempre dois momentos únicos, inigualáveis, pelo carinho, pela Amizade, pela espontâneadade e ternura que representam.
Tomava um café com a Bruxinha no sítio do costume. Estava um dia de Sol fantástico!
Parecia já Primavera...
Na mesa ao lado, Ela acabava de chegar com uma Geribéria cor-de-rosa na mão, e com um longo caule. Ele já estava sentado há algum tempo no café, e lia o jornal, tranquilamente, acompanhado de um copo de galão já vazio, e um pires que teria sido de uma torrada.
De pé, em frente a Ele, Ela sorriu. Debruçou-se sobre a mesa e ofereceu-lhe a Geribéria fresca, dizendo:
- "Toma. Isto é para ti, meu querido."
Ele sorriu enternecido, correspondeu ao beijo, e ficou a olhar a flor que acabara de receber...
- "Obrigada, obrigada, é linda..."
Embevecida, ela retirou do saco uma pequena caixinha de cartão, e coloco-a sobre a mesa. Tinha uns biscoitos caseiros lá dentro.
- "Trouxe para ti" - sorriu Ela, com ternura.
Ele preferiu comer em casa, mais tarde. Ficou a sorrir para ela durante mais alguns longos segundos.
Uma cena de filme, bonita, carinhosa, e cheia de ternura.
Ele e Ela. Juntos, celebravam à sua maneira todo o Amor, Carinho, Amizade, e Respeito que nutrem um pelo outro. Ele e Ela. Com um percurso longo de Vida.
Ele e Ela. Na casa dos Setenta e muitos anos... Ele e Ela. Sempre.
Sorrimos embevecidas ao assistir àquele momento, e olhamos uma para a outra, sem palavras.
Ambas sentimos toda aquela emoção contagiante.
Ambas sentimos que, nos dias de hoje, já são raros aqueles exemplos. Mas aquele, aquele ficará para sempre na nossa memória.
Será um filme real, bonito, e eterno.
- "Flores?... São lindas, adoro!" confidencei à Bruxinha.
- "Nunca recebi flores..." continuei.
Uma coisa aparentemente tão simples e, no entanto, totalmente inédita para mim. Bruxinha não queria acreditar!
- "Quê? Impossível!" , reclamou ela com o seu olhar lancinante, afiado e capaz de atravessar qualquer coisa ou qualquer um, revoltada contra aquela impossibilidade!
Pois é, às vezes não é preciso inventar a Roda. É tudo tão simples e tendemos a complicar tanto...
Continuámos à conversa, e mudámos de assunto.
Num abrir e fechar de olhos, e já perto da segunda parte do curso, a minha amiga foi comprar água, enquanto eu fiquei a despachar uns telefonemas.
Num abrir e fechar de olhos, dei comigo sem palavras.
Num abrir e fechar de olhos, fiquei paralisada.
Num abrir e fechar de olhos, não contive mais algumas lágrimas.
Porque num abrir e fechar de olhos... surge a Bruxinha com uma Rosa Azul lindíssima na mão, estende-ma, e num abraço sorridente que mal sou capaz de acolher, segreda-me ao ouvido:
- "Agora já não podes dizer que nunca recebeste uma flor na Vida! Vale mais uma boa Amizade do que um Amor descolorado!"
Num abrir e fechar de olhos... tanta coisa aconteceu, ali.
Num abrir e fechar de olhos, uma mistura explosiva de sentimentos invadiu-me a mente, e levou-me numa viagem por algumas etapas da minha Vida.
Num abrir e fechar de olhos, muita coisa fez sentido para mim...
Num abrir e fechar de olhos...
Num abrir e fechar de olhos o dia chegou ao fim...
Caminhava agora junto ao Rio. E Sorria.
Sentia a brisa leve no rosto, e ouvia o suave esbater das pequenas ondas na margem.
Olhei para as luzinhas que reluziam do outro lado da margem, bem ao fundo.
E no céu, lá estava a minha constelação de sempre, a Ursa Menor. É minha, porque desde criança que a identifico no céu, no meio de todas as outras. E passou a pertencer-me.
Em criança, pedia desejos, conversava com ela, e confiava-lhe os meus segredos.
Num abrir e fechar de olhos, cresci, tornei-me mulher. Mas jamais perderei a capacidade de Olhar e Amar que sempre fez parte de mim.
Amo cada momento de Vida. E por isso todos os meus dias são Dia de São Valentim. Apaixonados, ternos, atentos à ternura. E Felizes, por estar rodeada de pessoas assim... bonitas, amigas, que se preocupam e cuidam.
Caminho ao longo do Rio... Sorrio.
STRESS AND THE CITY - Living in a big City can be fantastic but also overwhelming. Since I moved to London, I've been living some of the most challenging moments of my Life. I'm bringing my experience of moving here alone, with nothing but the certainty of how much I wanted to stay and develop myself here. My posts will touch thoughts, personal and professional experiences, failure and success, new and old friends and how much all this is shaping the person I'm becoming.
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Wednesday, February 14, 2007
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