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Sunday, April 08, 2007

O Voo da Borboleta

Senti que ia morrer.
Não por ter sofrido algum acidente, nem tão pouco por me sentir mal de saúde.

Caminhava calmamente por Lisboa, depois de um dia de trabalho... E senti que ia morrer.
Não naquele momento, mas que esse momento estaria perto. Senti tudo isto com enorme tranquilidade.

Caminhava firmemente, com os headphones nos ouvidos, indiferente à típica confusão do trânsito em Lisboa, ao final do dia.
Pessoas apressadas, carros em filas no "pára-arranca", obras a meio, prédios em ruínas tapados com gigantescos "Mantos Publicitários".... toda esta paisagem, acompanhada do ruído de buzinas, escapes e motores, sirenes de ambulâncias, motos, entre alguns longínquos chilreares de pássaros, anunciando timidamente que a Primavera também chegára à Cidade.

E no meio de tudo isto, sentia-me profundamente tranquila, plena de Vida, alegre até, mas... sentindo que em breve, muito em breve, deixaria de estar por "cá", no meio de tudo aquilo.
E curiosamente, senti até uma distância enorme entre o meu corpo e a minha Alma (atman), e a "tela" por onde caminhava.
Senti que a minha mente estava, de alguma forma, a registar e a guardar todos aqueles detalhes daquele momento específico, assemelhando-se a um "fazer as malas com o olhar" e partir numa "Viagem" longa.

E assim me senti durante sete dias consecutivos...
Guardei tudo. Vi, e revi todo o filme, sem problemas de "racord" na sequência de emoções.
Sentia-me tranquila e até preparada. Estranhamente preparada.

Hoje entendi... Senti!
Sinto que estou a largar uma pele, e a tornar-me consciente de uma mudança profunda...
Vivi muitas emoções ao longo do último ano. Um ano intenso, rico, mas muito duro, sem sombra de dúvida.
Morre uma parte de mim, para dar lugar a outra... diferente.

Uma parte de mim que estava por brotar, e que finalmente... saiu das profundezas.

A Primavera é sinónimo de um novo ciclo, de Renascimento da Natureza, do despertar da inércia do Inverno, para algo de novo. Uma nova Vida.
Talvez seja fruto da Primavera. Talvez...
No entanto, sei que é muito mais do que isso. É um novo reencontro com o meu "Eu". Com um "Eu" mais forte, mais seguro, mais maduro e sensível, mais selvagem e frontal, repleto de compaixão, livre de amarguras, ódios e arrependimentos, e amarrado à Vida, à beleza das coisas e dos outros, fiél aos Valores de sempre.


Olhei para o céu e vi uma Borbleta linda, esvoaçar a alguns palmos do meu olhar.
Soltou-se!...

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