Todos nós sabemos que quem conta um conto acrescenta um ponto. Temos esse exemplo prático quando vamos à padaria e desabafamos com a padeira em como nos dói a cabeça e depois, após um mês de férias nas Caraíbas, ficamos surpreendidos quando regressamos ao bairro e verificamos que muitos dos vizinhos nos julgavam mortos com um qualquer tumor cerebral.
Se há histórias mal contadas a do cristianismo é uma. Nunca me convenceu por uma razão muito simples: a do longo tempo que nos separa desse acontecimento.
Numa altura em que não havia o recurso ao registo digital, as façanhas eram escritas, traduzidas, rescritas ou verbalizadas de geração em geração.
Com os cybertextos e as e-textualidades de hoje em dia essa história seria seguramente diferente. Não haveria espaço para técnicas como a do “cadáver esquisito” onde cada um vai acrescentando palavras ou imagens sobre uma primeira proposta da história e através do seu Tempo e da sua Cultura, vai fazendo e seguirá a fazer a sua participação na obra colectiva.
Numa altura como esta da Páscoa em que se comemora a ressurreição de Cristo e a vitória sobre a morte, importa para mim não dissertar sobre essa história mal contada mas ver o lado romântico da coisa.
Acreditar que Jesus esteve reunido com os seus apóstolos no Getsemani na noite anterior à sua morte, e que terá entrado em agonia, ao ponto do seu suor se tornar em gotas de sangue que escorreram pela terra é demasiado figurativo e simplista para a minha mente romântica.
Pois então o que falta para tornar esta história mais romântica e comovente ainda? Falta música, dramatização e profundidade nas palavras de Cristo que só 1973 anos depois foram finalmente conseguidas pelas mãos de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice na magnífica interpretação de “Gethseman” por Ted Neeley (1943).
Nesta Páscoa sugiro que se deixem de ovos de chocolate e amêndoas e rumem até ao vídeo clube, não para alugarem a Paixão de Cristo do Mel Gibson mas a Ópera Rock Jesus Chrisr Superstar.
Trinta de cinco anos depois do lançamento do filme eis que surge novamente Ted Neeley, mais velho e mais poderoso. Desta feita em teatros, numa das mais soberbas interpretações de Cristo que eu me lembre.
Se quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, retirando, por vezes, verdade ao conto, neste caso pode-se dizer que quem interpreta uma música acrescenta-lhe o que lhe vai na alma. A mesma música a mesma letra mas com o poder de mais anos em cima. Quase os mesmos com que Cristo morreu.
Com Cristos assim quase que apetece ir à missa.
Ted Neeley - Gethsemane - Jesus Christ Superstar (2008)
Ted Neeley - Gethsemane - Jesus Christ Superstar (1973)
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