Acordei sobressaltada. Não ouvi o som do iPhone que me acorda todos os dias. Pela luz lá fora, o Sol já ia alto e ainda em sobressalto puxei o telemóvel para mim e vi as horas. Quase dez da manhã... Sentia-me claramente de ressaca... Ressaca da semana, do mês, dos anos, das nebulosas do meu espaço interior, mas também do dia anterior.
Levantei-me empurrada por mil pensamentos. Lembrei-me que a minha amiga estava quase a partir e envie-lhe um SMS a despedir-me novamente, depois de a ter deixado em casa ontem, já tarde. Depois, não sabia bem por onde começar. Continuava sem fome. Desde há uns dias atrás que a fui perdendo.
Caminhei até à cozinha, liguei a micro TV, enchi uma caneca com chá gelado e fiquei a olhar lá para fora, com o ruído das notícias da economia e da bolsa ao fundo. Olhava mas não via nada. Sentia o peso de várias vidas a mim ligadas e do enorme vazio, misturado por uma pequenina perspectiva de mudança. Senti-me impotente perante tanta coisa que, por momentos, perdi a força que me caracteriza e que me leva a lutar sempre até ao fim, onde encontro sempre uma solução. Senti-me como uma Amazona arrastada pelas lutas intensas dos últimos 8 anos, já sem forças para continuar. Talvez fosse o momento de parar e... deixar-me estar, simplesmente. Aceitar que é altura de deixar as coisas acontecer sem lutar contra elas. Senti que era este o caminho e não tive medo. Senti-me apenas só na tomada de decisão.
Terminei o chá, tomei um duche longo e deixei que os pensamentos escorressem com a água e me levassem as lágrimas guardadas durante os anos de luta. Deixei as armas e saí de casa para ver o mar...
Ouvi a tua voz. Ainda estava muito presente, desde ontem. Perguntavas se estava tudo bem, num tom que adivinhava que algo não ia bem comigo. E eu disfarcei mal. Mas não foste mais longe e eu também não. Refugiei-me na trincheira da chamada telefónica porque tenho de lutar contra o que sinto.
Porque tem de ser assim?... Porque não acontece como a tantos outros em que tudo acaba bem?... Fui eu quem estragou tudo? Ou mais uma vez me senti impotente face à tua obsessão por alguém que te magoa e te faz mal? Ou será que não faz?... Será que fui só eu quem sentiu genuinamente o pouco que vivemos?
Sim, pode até ser precipitado, mas não é o relógio ou o passar de folhas do calendário que determinam o que sentimos por alguém. Creio que ambos sabemos que foi desde o início, no momento em que não era suposto ser. Porque nem sequer tentaste?...
Queria ter tido a oportunidade de te olhar nos olhos e partilhar o que sentia. Talvez por isso eu não te tenha abandonado... Permaneces em mim como se tivesse sido ontem e ficarás... como uma tatuagem que queremos guardar eternamente.
Queria ter tido a oportunidade de te olhar nos olhos e partilhar o que sentia. Talvez por isso eu não te tenha abandonado... Permaneces em mim como se tivesse sido ontem e ficarás... como uma tatuagem que queremos guardar eternamente.
Deixei o mar e desisti... Fui sentindo que a possibilidade de deixar de lutar era mesmo o caminho a percorrer.
Voltei para casa e mergulhei na mudança que aí vem, com todos os riscos que aceito correr. É chegado o momento de agir em vez de lutar. É chegado o momento de aceitar que a felicidade são momentos que atravessam a vida, desde que os deixemos entrar naturalmente. E se pelo caminho existir outro sorriso que se queira juntar ao meu, melhor ainda.Só naquele momento senti que tinha despertado, esta manhã...